quarta-feira, 1 de julho de 2009

TERRITORIALIDADE: (a) Revolução das Possibilidades

Inicio estas linhas na lembrança de diversas discussões, práticas, artigos, livros, seminários e Workshops que participei e indago: O que realmente é “territorialidade”? E porque este exagero de foco neste conceito, que tende a se transformar, em muitos meios e casos, num modismo epidêmico? Vamos para uma conversa solta e sem pretensão de uma definição “exata”(esta palavra é muito oportuna para a ironia intencional de nossa reflexão). “Território” tem a ver com "lugar", que para muitos tem uma significado de espaço e realidade metrificada. "Lugar", talvez seja um ótimo sinônimo para o que queremos expor nesta reflexão. Somos gerados e criados na essência de um "lugar". Tudo o que existe se transforma em matéria/realidade de um lugar. Por exemplo, a relação entre mãe e filho, educador com educando, amigo com amigo, vizinha e vizinho, amante com amado, é a materialização e concretização de uma realidade maior que as duas singularidades. Por isso, é na relação que se dá a possibilidade da existência de uma realidade e é na relação que temos a concepção, literalmente falando, de "lugar". Muitas vezes, concebemos "lugar" como um espaço geográfico materializado numa demarcação de "terra", quadra, sala, enfim, de uma coisa "pegável". A amizade pode ser agarrada é um elemento “pegável”? E a relação apaixonada entre um casal pode ser materializada pelo nosso toque? O supracitado Sant Exupéry assim, afirma: "O essencial é invisível aos olhos", e parodiando afirmamos: Aquilo que mais nos toca e nos atravessa em nossa rotina é impossível de ser agarrado. Quanto falatório hein?! Que miscelânea de lógicas e palavras. Tudo isto na tentativa de provocar a razão para uma perspectiva de desconstrução de seus paramentos, hipóteses e verdades. Ao falar de territorialidade, nesta discussão aqui iniciada, temos que superar a lógica habitual do cientificismo do início do outro século, que constrói tudo numa lógica matemática e previsível. Hoje o discurso tende a mudar, fala-se de criatividade do olhar, busca por possibilidades, concepções diversificadas e transitórias da realidade. A própria Física Quântica vem assolar as certezas da ciência até então professada, revelando que tudo o que parece ser, ainda não é, pois a realidade é um universo de possibilidades e submundos em mutação. O que falar então das ciências sociais e entre elas, da ciência educacional, que concebe a realidade (seres humanos, animais e vegetais etc.) como algo já dado, já pré-definido, pré-conceituado, conhecido e investigado. Estas formas necrófilas de concepção e posicionamento frente ao fenômeno da realidade e da vida como um todo encerra estágios de progresso e renovação de muitos processos presente no nosso cotidiano de vivência, trabalho. Por exemplo, a questão aqui discutida: TERRITORIALIDADE; matamos o fenômeno do território com uma visão primária e escolar de geografia e ignoramos que aquilo que imaginamos é uma faceta de um fenômeno maior. Neste processo a atitude de desconstrução, de busca incessante e de constante investigação é a grande "sacada" para a superação deste movimento de limitar e matar as possibilidades da realidade. O processo de compreender a territorialidade tem a ver com a capacidade do ser humano de despir-se sempre o seu olhar e a sua própria percepção, domesticada para poucas e escolhidas formas de ver. Hoje as Ong’s espalhadas pelo mundo inteiro , como meio de atuação e transformação, delimitam e identificam um Objetivo frente à realidade e um Público Alvo para as suas "intervenções". Com este “método” as ONG’s deixam de lado um mar de situações que geram diversos temas necessários e relevantes (e o pior, alguns nem percebem as “demandas” da realidade e implementam os seus diagnósticos e olhares subjetivos baseado num plano de trabalho frente a realidade). Eis a questão: como concebemos o "lugar” onde trabalhamos, vivemos e convivemos? Quais são os parâmetros e que compreensão métrica, geográfica eu tenho deste lugar? Consigo medir até aonde vai a minha percepção da realidade local? Eu percebo que a cada dia nasce a "novidade" da realidade em diversas teias e malhas minúsculas e gigantescas? Consigo perceber que tudo o que sei e canalizo em minha percepção ainda não é a percepção mais justa, ampla e autêntica da realidade? Como ajo diante desta infinidade de possibilidades, ou melhor, como me oriento para não perder o foco da inquietação e da constante procura pelos contornos invisíveis da realidade? Percebo que existem coisas que não estão presentes nos número estatísticos sociais, financeiros, relatórios e metas organizacionais? Eis o nó da questão até aqui problematizada. O que vejo? O que percebo? O que concluo? O que faço? O que imagino fazer? Já dizia um jovem cientista político: “A primeira grande ação é o saber perceber”. Hoje a sociedade sofre não por causa de uma percepção ingênua, livre, mas de uma percepção manipulada por outras percepções. Territorialidade é a equação da capacidade de inquietar-se. E toda inquietude gera procura, caminho, cenário de possibilidades, re-invenção de paradigmas, enfim, uma organicidade nas percepções e atitudes cotidianas. Este é o nosso “lugar”, uma malha de relações infinitas, basta perceber!

Um comentário:

  1. É humana a tendência que temos em enxergar o mundo segundo as lentes que adquirimos no caminhar de nossa historia terrena... elas baseiam nossas percepções, “achismos”, preconceitos ou nos levam ao naturalizar sensos comuns e esteriótipos. Também nos impedem de enxergar o mundo em seu colorido, por seus ângulos agudos, obtusos, rasos e tantos outros ditados pelas teorias matemáticas. Caso não realizamos o exercício constante de nos despirmos dessas lentes, mais limitados serão nossas reflexões, imaginação e conhecimento da realidade que nos cerca porque perdemos o olhar curioso, inventivo/criativo de perceber e reinventar. Territorialidade transcende o sentido geográfico do termo, visto que nossas linhas imaginárias ganham novos contornos, sentidos e cores, pois as construções são constantes, assim como as possibilidades que se constituem em novos ângulos... é o tecer de novas teias, do fortalecer as relações, o sentimento de pertencimento, é o desabrochar de “SERES MAIS”, proativos, capazes de transformar a mais adversa das realidades, para a desconstrução/construção de novas realidades, que estão além do campo palpável, mas no surgimento de sonhos possíveis.

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